5 perguntas mais frequentes sobre cirurgia de Escoliose

Gostaria de salientar que não sou médica, obviamente, nem uma especialista no assunto. Eu tiro todas as minhas dúvidas com profissionais que conheço. Me baseio em artigos e em minha experiência pessoal para tentar ajudar principalmente pessoas com esse problema e a família delas também. Destaco também que se surgir alguma dúvida quando estiver lendo este post me procure para conversarmos.
Saliento, também, que a opinião de um médico ou fisioterapeuta deve sempre ser considerada. Então, vamos lá!

1) Quando é o momento certo de fazer a cirurgia?
A cirurgia só pode ser feita a partir dos 40º (Cobb) ou mais de escoliose. Por quê? Bem, quando perguntei isso ao meu médico, ele me disse que é uma norma, uma "regra". Nenhum médico pode operar quando o grau da curva é menor que esta, apenas indicar outros tipos de tratamentos conservadores. Qualquer médico que faça cirurgias de escoliose lhe dirá a mesma coisa.
Quando a pessoa apresenta uma curva acima dos 40º a cirurgia de artrodese pode ser feita como alternativa de tratamento para corrigir o máximo possível a coluna, evitar a evolução da escoliose e os problemas secundários que ela causa. Então se fusiona as vértebras colocando hastes, parafusos e, como em alguns casos que já vi, alguns ganchos. Lembrando que nem toda curva de 40º é uma curva que necessita de cirurgia, tudo depende, cada caso é um caso. Alguns profissionais preferem operar a partir dos 45, 50 graus e existem métodos conservadores para tratar escoliose, mas isto é um assunto para outro post.

2) A cirurgia corrige totalmente o "problema"? É preciso usar colete depois?
Não, a cirurgia não cura a escoliose, diferentemente do que prega o senso comum! Dependendo da pessoa, das condições da cirurgia e de alguns outros fatores, pode-se corrigir bastante a curva da escoliose. A parte estética das costas fica mais bonita (menos torta), os ombros ficam alinhados, há alívio de dores e outros sintomas que trazem incômodo. Mas, cada pessoa é diferente, cada caso é diferente, cada adaptação pós-cirúrgica é diferente uma da outra. Algumas pessoas ficam bem satisfeitas com os resultados, outras nem tanto. Algumas curvas são bem rígidas o que dificulta uma maior correção. Outras curvas mais "maleáveis" são mais fáceis de ser corrigidas. Apesar de uma cirurgia poder corrigir em boa parte a deformidade ela NÃO TRAZ A CURA DA ESCOLIOSE. Isso precisa ficar bem claro.
Até hoje, eu vi poucos casos onde as pessoas precisaram colete depois da cirurgia. Há casos em que os materiais quebram dentro do corpo (principalmente materiais mais antigos como os de Platina), seja por acidente ou outros fatores, normalmente dá pra viver com isso, mas em alguns casos é preciso operar para tirar o material. Vou deixar no final da postagem, alguns links de artigos científicos que falam sobre várias cirurgias de escoliose, onde tem fotos e explicações que podem ajudar melhor a compreender o que estou dizendo.

3)No hospital que tipo de roupas posso usar, e quais objetos de uso pessoal posso levar? 
No dia da cirurgia, não adianta levar uma mala de roupas e muitas coisas, porque você só vai para a sala de operação "com o seu próprio corpo" mesmo! No dia em que fui para o hospital operar, houve toda uma preparação. Me fizeram perguntas relacionadas a medicamentos que eu tomava, doenças, cirurgias anteriores e etc.
Mas no momento em que fui me vestir para ir operar, não pude ficar com nenhuma roupa minha (nem minhas próprias roupas íntimas), muito menos um elástico que eu levei para prender os cabelos. Todas as "roupas" que me deram eram do hospital; touca, meia e roupa íntima todas descartáveis, exceto o roupão. Todos os meus objetos pessoais precisei deixar com a minha mãe.
Depois da cirurgia eu estava péssima, com dores insuportáveis, enjoo e falta de ar. Não conseguia pensar em colocar alguma roupa minha, primeiramente porque eu estava impossibilitada, como usei sonda urinária e dreno nas costas, usar alguma roupa minha como short, ou blusa só iria dificultar o trabalho das enfermeiras e minha recuperação.
Estou dizendo isso, porque muitas meninas perguntam nos grupos de escoliose se pode usar roupas no hospital, peças íntimas, objetos pessoais e afins... Contudo, digo por experiência própria que a única coisa que foi realmente necessária nos dias em que eu estive internada foram um pente para desembaraçar os cabelos, e uma escova de dentes. Eu sentia tanta dor que nem pensava nas coisas mais básicas. Claro quando estiver no quarto é bom ter alguns pertences de higiene pessoal, como xampu, condicionador, sabonete, desodorante. Eu usei o celular no 3º dia de hospital, para mandar mensagens de como eu estava. No restante do tempo eu queria dormir e descansar, não conseguia focar o pensamento em nada (era muita dor).


4) Corro o risco de ficar paraplégica(o)?
Muita gente quando houve falar em cirurgia da coluna "morre de medo". Antigamente havia muitos casos de pessoas que operaram a coluna e perderam os movimentos ficando paraplégicos ou até mesmo tetraplégicos.
Felizmente, hoje em dia, esse risco caiu bastante devido ao avanço da Medicina e da Ciência... Nas cirurgias de escoliose tem sido utilizada a neuromonitorização, que é a:

"Monitorização neurofisiológica intraoperatória que consiste no uso de métodos neurofisiológicos como eletromiografia (EMG), eletrocorticografia (ECoG) e potenciais evocados (motores,somato-sensitivos e auditivos de tronco) para monitorar a integridade funcional de estruturas neurais durante procedimentos cirúrgicos (cérebro, medula espinhal e suas raízes, nervos periféricos).
Durante cirurgias de coluna , onde existe risco de lesão medular ou de raízes nervosas pela distração da coluna ou pela própria instrumentação, 33% dos parafusos pediculares inseridos com o uso de radioscopia rompem a parede medial do pedículo levando a lesão imediata ou posterior da raiz nervosa ou em casos mais graves da própria medula, sob uso de monitorização a taxa de erro cai para 7%.
Em cirurgias de escoliose para citar um exemplo, a taxa de paraplegia pós-operatória é reduzida em 60%."

Ou seja, há riscos? Sim, contudo muito menores, ou até mesmo 1% de riscos quando a Neuromonitorização é utilizada. Porém, são riscos muito pequenos, comparados aos riscos de cirurgias de colunas feitas há 10 anos atrás, por exemplo.

5) Como é a vida depois da cirurgia?
Eu não posso afirmar que os resultados serão tão bons quanto os meus, ou tão ruins.
Em se tratando da escoliose, há sintomas muito parecidos em todos e há sintomas completamente diferentes. Já vi muitas pessoas dizendo que não sentiram dor alguma e já vi pessoas dizendo que "quase morreram de dor". Tenho amigas que já me relataram que a cirurgia pra elas foi algo bem simples e tranquilo. De qualquer forma, a vida depois da cirurgia de escoliose vai depender da sua reação. É uma cirurgia grande, delicada. Não vai querer jogar futebol, fazer academia, correr, e voltar a trabalhar logo no primeiro mês, certo?
Eu sei, que ficamos impacientes, tristes e algumas vezes chateados, mas o que quero dizer, é que tudo depois da cirurgia deve ser feito com calma, esperado com paciência, e construído com esforço e dedicação. Não vá se machucar porque tem pressa de voltar a ter uma vida normal.
Agora falando de mim, eu tomei meu primeiro banho SOZINHA com 1 mês e meio de cirurgia. Eu andei de ônibus pela primeira vez com 1 mês de cirurgia. No primeiro mês tudo o que eu fazia era acompanhada por alguém, para não cair. Até hoje não posso cair. Eu ainda não corro, eu ainda não ando de bicicleta. Mas faço academia, caminhadas, já ando de ônibus sozinha (mas é algo muito difícil pra mim), subo escadas. Aos poucos estou recuperando minha "vida normal".
Espero ter te ajudado em alguma coisa, até o próximo post!

Links de artigos relacionados e Bibliografia:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1808-18512011000200002&script=sci_arttext

http://www.noremcg.com.br/2011/04/neuromonitorizacao/